Homenagem a Moacyr Malacarne

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Foi com bastante pesar que recebemos a triste notícia. Venho por meio desta, expressar nossos profundos sentimentos, mas sei que as palavras não conseguirão cumprir esse papel. O Sr Moacyr Malacarne faleceu após sofrer um acidente na noite desta segunda-feira (04/11). Segundo informações que recebemos da família o velório acontecerá na comunidade São Paulo da Cruz, em Vila Capixaba. Há a previsão da liberação do corpo do DML ainda hoje.

Moacyr Malacarne, que dá o nome ao Grêmio, nasceu em São Domingos do Norte no dia 22 de Janeiro de 1938 e foi poeta, trovador e autodidata. Filho de Romano Malacarne e de Dona Maria Fávero Malacarne. Moacyr casou-se a 18 de Julho de 1959, com Maria Benardina Fávero, falecida em 27 de Agosto de 1996. Realizou palestras sobre Poesias e Folclore e Cultura Popular Brasileira. Formou-se em Folclore pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, curso realizado em 1979. Ele recitou suas poesias na cerimônia de posse da primeira diretoria do Grêmio Estudantil Moacyr Malacarne, do campus Cariacica e recebeu certificado de representação.

Deixamos essa singela homenagem para o Sr Moacyr Malacarne através de um texto do Rubem Braga.

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor pensar que a última vez que se encontraram se curtiram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

(Rubem Braga - trecho do livro "A Traição das Elegantes")








Texto: Vanessa Pina